Mais uma vez recebo uma colaboração dos amigos do site. O leitor Claudio Moises recentemente fez uma "revitalização" no TK2000 que ele guardou por quase 30 anos e documentou fotograficamente todo o processo. Portanto, as fotos deste artigo são do Claudio, e estão aqui reproduzidas com autorização dele.


Dá para notar inicialmente a cor amarelada do gabinete que geralmente está presente nos equipamentos dessa época. Consultei o meu bom amigo e professor de química Flávio Matsumoto ( www ) e conforme palavras dele:

"Isso acontece devido a fatores externos como oxigênio do ar e radiação UV que podem levar a degradação de polímeros. Em casos extremos, pode deixar o material totalmente quebradiço. Aparentemente, no caso de gabinetes de computadores, a degradação só ocorre superficialmente, mas que acaba tendo alterações na estética. Tudo é teoria, porque primeiramente não se tem certeza sobre a formulação dos materiais que o compõe o plástico do gabinete, mas é quase certo que estão sofrendo algum tipo de oxidação que leva a formação de compostos coloridos."

    


Voltando ao trabalho do Claudio, primeiramente a máquina foi completamente desmontada. Nesse ponto já dá pra notar os problemas na membrana do teclado e capacitores rachados.

    

    

   

 
O branqueamento foi feito com peróxido dehHidrogênio, popularmente conhecido como água oxigenada. Mas não adianta chegar na farmácia e pegar aquela da prateleira que tem somente 40 volumes que seria muito "fraca" para este processo. Foi usada a de 200 volumes que é possível ser encontrada nas boas lojas de produtos químicos. Essa foi comprada na B.Herzog no centro do Rio de Janeiro por R$ 27,00 o litro (preço de início de 2011).

No entanto, o professor Flávio alerta:
"Existe um risco ao manusear o peróxido de 200 volumes pois ele é um oxidante muito forte, portanto pode queimar a pele e é potencialmente explosivo. O peróxido por si só é instável, produzindo água e oxigênio gasoso, mas geralmente os produtos comerciais contém estabilizantes que aumentam sua vida útil. Porém em contato com compostos orgânicos como papel ou madeira, por exemplo, pode entrar em combustão ou até explodir. Nessa concentração, 1 litro do produto pode rapidamente produzir 200 litros de oxigênio, então já da pra imaginar o tamanho do estrago. Quem quiser testar o método do Claudio deve utilizar EPI (óculos de segurança, guarda-pó ou avental, luvas, calça comprida grossa e sapato ou tênis fechado - nada de bermuda e sandálias). O ideal é adquirir só o que for usar, pois não convém fazer o armazenamento em casa. Para o descarte, siga o protocolo.

    

O Claudio fez alguns testes antes com teclados antigos e determinou que o ideal é deixar o gabinete por 24 horas na bacia com o peróxido. Como a bacia foi razoavelmente pequena para a quantidade do químico, ele foi fazendo face por face do plástico de cada vez durante uma semana inteira, deixando apenas 24 horas cada uma delas.
 

    

Aqui já depois de uma semana de trabalho. Notem que o plástico ficou bem mais claro perdendo aquele tom amarelo.

    

Continuando o processo de revitalização que não se limitou ao branqueamento do gabinete, ele também desmontou completamente o teclado e limpou a membrana para evitar qualquer tipo de mau-contato. Ele não passou detalhes de como fez, mas para a limpeza dos contados eu utilizo um uma borracha escolar branca daquela macia e passo levemente em cada um dos pontos da membrana. Depois apenas um pincel seco também macio para tirar a "poeira". Nada mais além disso.

    


O "cabo membrana" original do teclado foi trocado por um de CD player que tinha exatamente a mesma medida. O cabo ainda tinha uma pequena trilha partida que foi resolvida rapidamente com uma gotinha de solda. Uma outra solução poderia ter sido a soldagem de um pedaço de cabo flat, podendo ser cortado de um cabo IDE antigo por exemplo. O Claudio colocou ainda um conector no LED que originalmente era soldado diretamente na placa mãe. Desse jeito facilita uma eventual manutenção no micro.

  

    

 

 O TK2000 restaurado em toda a sua glória.
 
      

Pedi ao professor Flávio que comentasse um pouco sobre as receitas de branqueamento de modo geral e ele me respondeu o seguinte:

"A solução proposta pelo Claudio é utilizar H2O2 que é um oxidante razoavelmente forte. Creio que o mecanismo de ação é oxidar ainda mais os compostos coloridos, até que se chegue em compostos incolores. É o que ocorre em processos de branqueamento de papel ou de tecidos naturais. Pelas fotos, parece que funciona bem, mas teria que haver um estudo mais aprofundado, para saber se o branqueamento é duradouro, se permite repetidas reaplicações e se não fragiliza o plástico. Ao contrário da cerâmica e do vidro, materiais plásticos não são para sempre, um dia vai acabar degradando (mas pode demorar muito tempo). A questão é que não sei se este tratamento vai acelerar ou não esta degradação. Não sei se vai funcionar para alguma coisa, mas após lavar bem qualquer resíduo de peróxido de hidrogênio, poderia mergulhar o plástico numa solução de vitamina C (Cebion ou equivalente), que é um redutor brando. Pode não ajudar, mas mal não fará.

Além disso, eu só quero deixar claro que apesar de dar conta do recado na aparência, o material não está retornado ao estado inicial. Para isso, teria que se usar um redutor (que é o contrário de oxidante), para reverter a oxidação. Entretanto redutores fortes como boridreto de sódio ou hidreto de alumínio e sódio, são de difícil manipulação pois não podem ver nem traço de água. Isso significa que há necessidade de uso de solventes orgânicos, que podem acabar dissolvendo o polímero, ou ainda inchando o material. Portanto não recomendo seu uso, apesar de ter ouvido falar que pode branquear folhas de papéis amarelados.

Eu cheguei a encontrar menção além do peróxido de hidrogênio ao uso de hipoclorito de sódio nessas receitas, que é um outro poderoso oxidante. Mas tem dois defeitos, a meu ver. O primeiro é o seu cheiro, insuportável, enquanto o peróxido é praticamente inodoro. E outro é o hipoclorito ser bastante básico (alcalino), talvez possa afetar a superfície por causa disso. Outro oxidante forte é permanganato de potássio, mas ele é fortemente colorido e pode produzir um resíduo marrom.

Todos os outros oxidantes fortes são muito agressivos (perigosos), ou não são acessíveis ao consumidor doméstico: sulfato cérico, ozônio, cloro gasoso, perxenatos, flúor ou moléculas perfluoradas, entre outros.

Penso que o peróxido de hidrogênio acaba sendo o melhor, ou menos pior, dentre eles."

Comparem o resultado. Será que dá pra notar a diferença?

    

 
 


Referências bibliográficas: (indicadas pelo Claudio)


http://jefferson-ryan.blogspot.com/2009/03/como-fazer-plastico-velho-ficar-como.html


http://retr0bright.wikispaces.com/Using+Hypochlorite


AGRADECIMENTOS:

Claudio, obrigado pelas fotos e pelo excelente trabalho... e desculpa pela demora em hospedar...rs!

Agradeço também ao Victor Trucco ( www ) pelo passo-a-passo e por disponibilizar o artigo primeiramente no seu site e "foi só copiar" para o meu...rs! 

Também tenho que agradecer ao Professor Flávio Matsumoto.